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O CAIS DO HIDROAVIÃO

Projetado pelo arquiteto Ricardo Antunes foi construído em 1939, no bairro Santo Antônio, o hidroporto que ficou popularmente conhecido em Vitória como "Cais do Hidroavião". Na época governava o Estado o interventor João Punaro Bley, que esteve à frente do Governo de 1930 a 1945. O cais constituía uma das primeiras ligações aéreas de Vitória com outras capitais do País. A edificação dispunha de instalações para embarque e desembarque de passageiros e carga e descarga de mercadorias.

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O bairro de Santo Antônio foi escolhido para abrigá-lo por causa da calmaria de suas águas e da topografia do bairro, que se localiza contra o vento nordeste e está próximo ao Centro de Vitória. Além desses fatores, o bairro já contava, desde 1910, com uma linha de bonde que o ligava ao Centro da cidade. No Cais do Hidroavião, em meio a figuras anônimas como cafeicultores de Santa Leopoldina, Santa Teresa e Colatina, desembarcavam grandes personalidades trazidas pelas asas da Panair (empresa americana) e da Condor (alemã).

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Na Era Vargas, no ápice de uma modernidade pautada no poder centralizado do presidente da república, foi por ali que chegou a Vitória o presidente Getúlio Vargas. Após a Segunda Guerra Mundial o "Cais do Hidroavião", já integrado então à rotina dos moradores de Santo Antônio, foi fechado. A empresa alemã Condor, que explorava o local, após a guerra passou para o domínio americano sob o nome de Cruzeiro do Sul. O cais foi desativado com a construção do aeroporto de Vitória, em Goiabeiras, em 1946.

Depois do advento do aeroporto em Goiabeiras, após tempos de glória, o hidroporto ficou abandonado. Anos depois passou a ser utilizado pela Legião Brasileira de Assistência, foi sede do Caiçaras Clube e, posteriormente, um ambulatório médico. Até o final de 1984, o prédio que abrigava o cais pertencia à Aeronáutica, mas foi doado posteriormente para o Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel), que pretendia instalar no local uma estação de rádio.

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O "Cais do Hidroavião" é um excelente exemplar da arquitetura produzida no Brasil no início na chamada Era Vargas, marcado por uma matriz geometrizante Art Déco, porém já primando pelas linhas funcionais e estéticas da vanguarda arquitetônica internacional. No Brasil, apenas as cidades de Salvador e Rio de Janeiro possuem cais desse porte. O Projeto de Salvador, na Ribeira, também do arquiteto Ricardo Antunes, segue a solução funcional de ares Art Déco como o de Vitória. No Rio de Janeiro o projeto é mais ambicioso e modernista, do arquiteto Attílio Corrêa Lima; tombado pelo IPHAN como monumento nacional.

Em Vitória, o processo de tombamento do Cais do Hidroavião está em estudo desde 1999 e conta com o apoio, da Marinha, da Secretaria de Estado da Cultura e Esportes e da Secretaria Municipal de Cultura de Vitória. Desde então segue como edificação identificada em grau GP2 pelo município; caracterizado pela proteção integral secundária, para edificações e obras que, por sua importância histórica e sociocultural, embora tenham sido descaracterizadas, devem ser objeto, no seu exterior, de restauração total e, no seu interior, de adaptação às atividades desde que não prejudiquem seu exterior.

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O "Cais do Hidroavião" operou por nove anos aproximadamente e foi uma das grandes atrações de Vitória. Durante o tempo de operação, ele mantinha uma movimentação constante. Segundo depoimento de habitantes antigos de Santo Antônio, diariamente os hidroaviões aportavam naquele cais, desde simples monomotores a pesados quadrimotores de carga e passageiros.

Cada aeronave tinha capacidade de transportar até 60 passageiros que, devido ao baixo preço das passagens, sempre enchiam os aviões. Na época, três empresas operavam o cais: a Condor Sundikat, de origem alemã, que após a II Guerra foi transformada em empresa nacional com o nome de Sindicato Condor; a Panair do Brasil e a Cruzeiro do Sul.

A elite da cafeicultura capixaba de Santa Teresa, Santa Leopoldina e Colatina utilizavam as atividades comerciais do cais, além de turistas de outros Estados que chegavam com destino ao balneário de Guarapari. Havia uma relação muito forte entre os moradores de Santo Antônio e as atividades do cais. A pracinha em frente ao prédio ficava movimentada, com pessoas que iam apanhar e levar passageiros, bem como contemplar as manobras das aeronaves. Havia também o ponto final do bonde em frente ao cais e, mais à direita do prédio, o chamado cais das barcas, que era utilizado para o deslocamento de pessoas que trabalhavam ou iam visitar pacientes no hospital que ficava na Ilha da Pólvora, no meio do canal.

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Habitantes antigos do bairro lembram ainda com nostalgia, a época das atividades do "Cais do Hidroavião". O bairro Santo Antônio só não se desenvolveu mais, devido ao curto tempo das operações do hidroporto, cujo edifício era dotado de instalações modernas e luxuosas para a época. Ainda hoje, a geração mais antiga comenta sobre o hidroavião das 14 horas, muito popular por sua pontualidade permanente, chegando a servir de relógio para os habitantes.

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Ao longo das últimas décadas o "Cais do Hidroavião" passou por reformas e adaptações chegando ao século XXI renovado em sua estrutura e instalações de infraestrutura, abrigando então um restaurante e espaço de interesse turístico. Contudo, na atualidade, o quadro de abandono e degradação é grande. Dentro do Edifício o cenário é de destruição. Sem atividades, todos os móveis foram quebrados e as equipamentos foram quebrados ou roubados. Os vidros das janelas também foram destruídos. Dos banheiros, não resta quase nada. Em um dos salões, vidros das portas e das janelas quebrados estão espalhados pelo chão. Por todo o prédio, há infiltração e umidade com grandes marcas de destruição da história e do patrimônio público.

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Com informações de:

Jornal A Gazeta, 100 anos do Porto de Vitória, 31/03/2006.

Verli, Caique (19 de abril de 2017). Cais do Hidroavião: o primeiro aeroporto do Estado.

Aeroporto de Vitória - Eurico de Aguiar Salles. www.ancab.com.br.

http://www4.infraero.gov.br/aeroportos/aeroporto-de-vitoria-eurico-de-aguiar-salles/sobre-o-aeroporto/historico/

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